Por Benedito dos Santos (Bené) - Paraíba - Maio - 2005
Foto: Ivomar G. Pereira-Repórter - DRT 15855
Em entrevista exclusiva ao Jornal do capoeira, José Emilson Ribeiro, diretor da Divisão de Cultura Popular da Prefeitura Municipal de João Pessoa, através da Fundação Cultural de João Pessoa - FUNJOPE, fala da valorização da Cultura Popular pela Prefeitura Municipal de João Pessoa.
JOCAP - Qual a importância da criação de uma divisão de cultura popular na Paraíba, especificamente na cidade de João Pessoa?
José Emilson Ribeiro - "A criação de divisão de cultura popular tem uma importância muito grande, para que não aconteça como aconteceu nos governos anteriores, que se restringia toda atividade da Funjope aos grandes eventos, e pinçavam alguns grupos de cultura popular para se fazer presente, enquanto que hoje, nós procuramos dar uma ênfase maior a cultura popular e neste ponto, não estou sozinho aqui, haja vista, no que aconteceu com a realização da paixão de cristo, que fez uma série de inserções da cultura popular num evento sacro, considerado imexivel, então, com a divisão de cultura popular, há a oportunidade em se fazer a divulgação de grupos que antes não tinham oportunidade, trazer a tona, grupos populares de cultura de raiz, que antes, simplesmente passava desapercebido por parte dos grandes eventos, e a outra coisa é que tendo a pessoa ligada, nesse caso, eu, que venho a cinco anos fazendo a divulgação da cultura popular, já se colocou na ordem do dia, que seja dado aos grupos de cultura popular, tempo suficiente para que eles possam representar seu trabalho,então, o tempo muito exíguo. Exíguo que só dá prá fazer uma caricatura do que ele quer, trás de Pernambuco, por exemplo, o maracatu, dá quinze minutos para o maracatu se apresentar e não tem uma beleza em quinze minutos, o boi-de-reis, a mesma coisa. Então, a política. Digamos que estamos defendendo, maior espaço para que seja o trabalho mais bonito, trabalho mais convincente, que e a cultura!". Enfatizou o Diretor de Divisão de Cultura Popular da Funjope.
JOCAP - Como o Sr. Classificaria a questão da difusão da cultura popular da Paraíba hoje nos bairros?
José Emilson - "Acho que esse é o ponto principal, que a Funjope quer se apegar. O processo do curto circuito, que começou como experiência muito boa, mas que, nós estamos sentindo a necessidade de dar uma ampliação ao curto circuito, porque, você levar o curto circuito, com aquela quantidade de pessoas trabalhando em função de uma apresentação só, as vezes não dá ao público, o resultado esperado,então, estamos chegando a conclusão, que o curto circuito, deverá funcionar nos moldes do que vem funcionando o Centro Popular de Cultura, o CPC a cinco anos, ou seja, num só dia, numa só apresentação, fazer presente três, quatro, cinco grupos, no caso do curto circuito, eu defenderia a inclusão de três grupos, isso pelo seguinte. Muitas vezes, você já conhece aquilo que vai ser apresentado no curto circuito, e não se interessa muito, mas se vai ser apresentado três coisas diferentes no mesmo dia, as pessoas conhece uma, mas não conhece a outra, isso dá mais interesse e leva maior público para assistir. Não nos interessa gastar para fazer apresentação só para dizer que está fazendo, e tem um público muito resumido, o que interessa, é que o grande público, tenha acesso a isso, então seria, sair do centro e procurar os bairros, como por exemplo, já começou a presenciar isso aí, com a paixão de cristo. A Funjope disponibilizou o material que ela tinha prá vários grupos de teatro que quiseram encenar a paixão de cristo, e a mesma coisa nós vamos ter que fazer com relação aos outros segmentos da cultura popular, especificamente, com ênfase a nossa cultura de raiz"
JOCAP - Sr. Emilson, a questão da cultura de raiz, você acredita que com a criação da Divisão de Cultura Popular, venha a se valorizar mais o artista popular, uma vez que a reclamação maior nesse sentido é que não se tem apoio para divulgar o trabalho realizado por esses artistas populares?
José Emilson - "Sem dúvida nenhuma, e nesse ponto, a gente está arquitetando algumas feiras de artesanato, e com relação a cultura de raiz, trazendo grupos, como por exemplo, foi apresentado no curto circuito, o maculelê, que é uma parte da capoeira, uma forma bem mais ampla do que nós tínhamos visto antes. Isso faz com que, não só os grupos sintam-se valorizados para procurar se apresentar. Nas pesquisas que foi feito em relação ao maculelê, apresentado na feirinha de tambau, através do curto circuito, onde apareceram vários personagens, que tem outras ilustrações e nunca foram apresentados; por exemplo; o vaqueiro; o feiticeiro e mais alguns personagens; inclusive, a apresentação do elemento fogo, que nunca tinha sido visto aqui em João Pessoa, foi apresentado através do maculelê".
JOCAP - O Sr. Atribui como um resgate ou a revalorização da cultura?
José Emilson - "A revalorização da cultura"!- enfatiza "seu Emilson".
JOCAP - Com relação a cultura popular na Paraíba e no resto do Brasil, o senhor poderia fazer uma análise nesse contexto cultural? O senhor vê a Paraíba isolada desse contexto, ou a cultura popular se sucede aos demais movimentos no país?
José Emilson - "Olha, o que eu posso dizer é o seguinte. A Paraíba é um dos estados mais ricos em cultura popular, isso a gente vê. Desde as pesquisas feitas por Mário de Andrade. Ele esteve em vários estados, e na Paraíba, ele visitou quatorze cidades, e nos outros estados, ele variava de três a quatro cidades, a paraíba foi o estado mais pesquisado por Mário de Andrade. Ainda hoje, apesar da grande concorrência da televisão. Por que uma coisa, é você estar sentado no seu sofá, assistindo até um parafolclorico pela TV, com toda comodidade, e a outra coisa, é você estar no campo, sujeito a chuva, poeira e também a adversidade do meio ambiente, como a gente vê. Então, a Paraíba é um dos estados mais ricos em cultura. João Pessoa, detém uma poção desses segmentos, mas eu defendo, mesmo com a TV, a gente não restringir a isso, mas que procure agir de uma forma a atrair pra cá, os grupos de cultura, a exemplo do CPC, apresentar grupos das cidades interioranas". Comentou.
JOCAP - Sr. Emilson, nós que conhecemos bem a realidade do bairro dos Novais, onde existe a prática da capoeira , da ciranda, do coco-de-roda, do boi-de-reis e do cavalo marinho. Avaliando esse potencial do bairro, como o senhor classificaria os demais bairros de João Pessoa?
José Emilson - "nós temos cinco bairros em João Pessoa, esses bairros são celeiros em cultura popular, como Varadouro, Jaguaribe, Mandacaru, Torre e o bairro do Novais, eles são celeiros em cultura popular, e o bairro dos Novais está se projetando, por conta da criação de um organismo, que a gente resolveu em homenagem aos antigos Centros de Cultura Popular da UNE (União Nacional dos Estudantes), homenagear a UNE, combativa na época da ditadura, então criamos o CPC e esta entidade procurou servir de vitrine para os grupos que existiam, não só o bairro dos Novais, mas trazendo para apresentação, grupos de outras cidades, como por exemplo, a cidade de Cabedelo. Levamos a Nau Catarineta, trouxemos de Patos o parafolclorico, a Nau Catarineta é hoje também um parafolclorico, e trouxemos também, grupos de Bayeux, Conde e assim por diante, sem contar grupos vizinhos aqui da Paraíba. Hoje, o CPC se projetou por conta dessas atividades, que já se transformou em referência , se tornou referência ao ponto de um dia só de apresentação, que fazia todo mundo, não está sendo suficiente, porque por noite só dá para se apresentar três a quatro grupos. Nós entendemos que não se deve dá tempo insuficiente para cada grupo, não é possível se apresentar mais do que quatro grupos por noite e a concorrência de grupos que quer se apresentar no CPC é grande, ao ponto de dois dias estar se tornando pouco. Agora, isso para se ter uma produtividade, é necessário se repensar, porque chegou ao ponto que não é qualquer som que dá para se fazer uma apresentação. Haja visto, o que aconteceu na paixão de cristo, uma coisa triste, por não termos condições de contratar um trio elétrico, como sempre contratamos, mas a freqüência com a paixão de cristo na Sexta-feira, foi mais de cinco mil pessoas, ao ponto da Superintendência de Transportes e Transito da cidade de João Pessoa, não ter localizado nosso oficio e não ter ido dar cobertura. Os próprios motoristas, quando viam à distâncias, a multidão que estava na rua, eles desviavam, sem precisar da STTRANS, então fizemos a apresentação sem o apoio da STTRANS, só que a nossa apresentação foi tão (...) deixou tanto a desejar, que mais da metade das pessoas se retirou, não só pelo som, como pela dificuldade em presenciar as cenas por conta dos quatorze centímetros do nível do chão, sem ter um sistema de arquibancada, que fosse necessário para aquela quantidade de gente. Mas o bairro do Novais se transformou em referência por conta das atividades do CPC, uma entidade não governamental, sem interferência de políticos, só controlada exclusivamente pelos mestres que começaram. Mestre da Lapinha, da capoeira, do boi-de-reis, da ciranda, do cavalo marinho e mestre do Babau, são esses. O mestre do babau morreu, mas o folguedo continua na mão dos seus filhos, porque nós incentivamos os filhos a continuar o trabalho, e os outros mestres continuam dirigindo o CPC e dirigem de uma forma democrata, porque, até quem vai se apresentar ou não, quanto tempo para cada um, é decidido em reunião dos mestres, são eles que decidem". Explicou José Emilson Ribeiro.
Na próxima edição, publicaremos a parte final desta extraordinária entrevista concedida pelo diretor da Divisão de Cultura Popular da Prefeitura Municipal de João Pessoa, José Emilson Ribeiro.