quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Capoeira Na Paraíba: Prata na Casa

Prezados blogueiros, o Grupo Zumbi de Cultura Popular, traz uma matéria com o mestre de capoeira, Flaviano Ribeiro da Silva, ou simplesmente MESTRE CHICO!

Um menino, um irmão, um pai, um índio, um negro, um tudo, mestre! No quarto encontro berimbau Viola, o mestre Chico juntamente com o mestre Robson e o professor tota, outro que vem aí na linha de responsabilidades e será o nosso próximo entrevistado.

Segue na íntegra então, a entrevista com o mestre Chico!....

Mestre chico, quarto encontro do berimbau viola. Está dentro das suas expectativas?

MChico. Esse trabalho aqui, que começou na quinta feira, hoje (sexta-05/11/2010), amanhã pela manhã e a tarde (06/11/2010) juntamente com aquelas pessoas que viram e dar um toque final para todo mundo sair satisfeito!

MC. qual a sua avaliação da abertura do evento lá no centro histórico, especificamente lá no ateliê multicultural Elioenai Gomes?

MChico. Foi excelente, porque, a pessoa que a gente convidou apareceu e dizer também que as pessoas que foram lá para contribuir valeram à pena. Eu espero que assim como foi na quinta feira no Nai e aqui no sábado, no Peti de Gurugi e as pessoas que estavam lá para a gente fechar com chave de ouro. Enfatizou o mestre.

Mestre Chico, esse quarto encontro, que corresponde aos quatro anos de fundação do Berimbau viola e dentro desses quatro anos, tem uma grande história sua dentro da capoeira e que avaliação você faria, não da sua juventude como capoeirista, hoje mestre, amigo, irmão, toda essa parte que permeia o mundo da capoeira e como diz a sabedoria do mestre pastinha, que a capoeira é tudo que a boca come, mas essa história que você aprendeu e absorveu e hoje você tenta passar para seu filho, filho de amigo seu, que analise faz de todo esse período que passou da sua juventude e que hoje como mestre de capoeira, o que você traz desse passado?

M.Chico. Rapaz, eu trago muita coisa boa, principalmente quando eu comecei na capoeira, eu fui crescendo,acreditando nas coisas, aprendendo e dizendo também que o que a gente faz tem que gostar, que se não gostara gente não aprende, entendeu! Com muita dificuldade na parte da musica, da cantoria, do jogo, (....) e fui seguindo meu caminho como aluno, como professor, como contramestre, como mestre hoje, agradeço primeiramente a Deus nesse momento que a gente esta fazendo esse trabalho e espero que, como você falou, pra filho, do amigo, da amiga, do amigo que chegou aqui até hoje, o trabalho passa muita gente, não dois não, passa de 50, 100, e incentivando a pessoa o que a gente aprendeu na capoeira, a gente vai aprendendo no decorrer do tempo e dizer também que o que a gente faz, a gente tem que gostar e ensinar para que o pessoal aprendam o que é a Capoeira, fala dita pelo mestre pastinha e outros mestres que estão por aí ensinando essa capoeira. Exemplificou mestre Chico.

Mestre Chico. Como você avalia essa maestria de dois jovens, coordenar um trabalho digno junto a sociedade do conde, de Gurugi, Jacumã e de João Pessoa, que no caso é você e Robson

M.Chico. rapaz , tem que ser (....) cauteloso, porque o povo fala, do mestre novo formado novo na capoeira, mas ser formado novo na capoeira não quer dizer nada não, onde ele que chegar, como eu e o mestre Robson, absorvendo o bom da capoeira, e o pessoal vai tomando conhecimento, vai avaliando, não só o mestre como a comunidade, como esse trabalho feito aqui no Peti, em Jacumã, no conde mesmo e João Pessoa, tem que ter muito (...) tem que trabalhar muito cauteloso e saber o que esta se passando, a segurança que o mestre passa pra gente, os alunos passa e os pais passam principalmente, porque se na capoeira não tiver o aluno, não existe o mestre, não existe o professor, o educador, tem que fazer esse trabalho e que o pessoal goste do que a gente está fazendo, mesmo com dificuldade, porque hoje em dia na capoeira, que quem faz capoeira, como eu disse primeiramente, é que gosta, quem gosta da cultura, não é chegar aqui, bater palmas, achou bonito, fez aquela vitrine e pronto!, Não é bem assim!

Sentenciou Mestre Chico.

MESTRE CHICO, dentro dessa intenção de trabalhar com o social, a sociedade de todas as localidades onde o Berimbau Viola tenta mostrar a importância da capoeira pra essa sociedade, tem tido um retorno positivo?

M. Chico. Rapaz, depois de muitos anos, acredito que o berimbau viola, deu muitas voltas aqui dentro, um trabalho mais aberto, um trabalho que ampliou mais, um trabalho mais seguro, onde a gente pode confiar na pessoa que esteve presente aqui., o instrutor, o monitor, entendeu! – pra mim hoje, sentenciou o mestre Chico “o município do conde foi quando começou a capoeira aqui até nós chegarmos a quinze anos atrás, que hoje, a quatro anos, o berimbau viola, desenvolveu um sistema de resultado, esse trabalho eu bato no peito e tenho orgulho de falar, apesar das muitas dificuldades, é o trabalho que está sendo mais pedido, não só para a comunidade como você falou, mas também as entidades, pede educador para o governo federal, educadores para vários lugares, é esse trabalho, pra mim é muito proveitoso, não posso estar em vários lugares, mas tem os alunos que podem e tem capacidade de absorver o que aprender e de ensinar também, espero que o pessoal que tocam esse trabalho, por tempo indeterminado.

MESTRE CHICO. Você teria um agradecimento, um desabafo desse período e os próximos desafios?

M. Chico. Rapaz, eu tenho uma expectativa que, como eu já tinha feito por mim e o mestre Robson, que vai crescer mais ainda e a minha perspectiva é que a qualidade, a qualidade é a nossa meta, a qualidade do pessoal e absorver mais do que a gente esta passando, entendeu! Gosto muito do que eu faço e o mestre Robson também, e o trabalho é esse, espero que o pessoal goste do que a gente ta passando e as críticas construtivas para que esse trabalho cresça sempre, que a chama não se apague. Finalizou mestre Chico.

João Pessoa, Paraíba

Matéria publicada em 31/03/2006 no portal Jornal do Capoeira

João Pessoa, Paraíba
Curso de percussão com o contramestre Rafael Magnata; Janja & Ano Internacional da Mulher Capoeirista

Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br

Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006

Benedito dos Santos

João Pessoa - Paraíba

Março de 2006

Primeiramente quero pegar uma carona no artigo da Mestra Janja (Nzinga-SP) sobre o Ano Internacional da Mulher Capoeirista e parabenizá-la pela abordagem, e também por ter comprado nossa luta em prol deste Ano Internacional. Acredito que não haveria gloria maior para nós do que saber que Janja também está na roda conosco, tornando este "bom delírio" em realidade.

Os que acompanham nosso jornal sabem que em outubro próximo passado completamos nosso primeiro ano, e como sempre digo o Jornal do Capoeira é ainda uma criança, um "gurí" na gíria paraibana, mas está, como diria Mestre Waldemar da Liberdade, "indo em toda função".
Janja, sabemos e acompanhamos teu trabalho e teu exemplo, dentro e fora da capoeira, seja capoeira na visão da luta feminina, seja capoeira na simples visão "capoeira". Estaremos realizando, ainda este ano, o "
I Fórum Zumbi de Cultura Popular". Registramos antecipadamente o convite tanto aos "nzingueiros" quanto as demais camaradas que tem acesso à nosso veículo de comunicação - o jornal.

Na edição seguinte estaremos concluindo a primeira fase de crônicas e entrevistas sobre a Conferência Internacional de Capoeira Angola (CICA), realizada em João Pessoa no final do ano passado. Para fecharmos esta primeira fase apresentaremos uma entrevista muito interessante com o Mestre Casquinha, da capoeiragem carioca, falando, em especial, sobre a questão "violência na capoeira". Estaremos também fornecendo mais informações sobre o I Fórum mencionado acima.

Aproveitaremos esta edição para divulgar o curso de percussão com Mestre Rafael Magnata, de João Pessoa. O texto apresentado à seguir foi publicado no Jornal do Norte - www.jornalonorte.com.br -, um dos mais importantes da região. Vamos ao release:

Até a próxima edição,

Bené - Grupo de Cultura Populares

Para Refletir

Matéria publicada em 31/03/2006 no portal Jornal do Capoeira


Mensagem do contramestre Robson, Capoeira Angola Comunidade, PB, aos irmãos capoeirístas

Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br

Edição 67 - de 02 a 08 de Abril de 2006

Benedito dos Santos

João Pessoa, PB

Abril de 2006

Quero aproveitar este espaço do Jornal do Capoeira para compartilhar à nossos irmãos capoeiristas da Paraíba, do Brasil e do Mundo, um texto do contramestre Robson, do grupo Capoeira Angola Comunidade (CAC-PB), daqui da Paraíba. Este texto é para refletirmos um pouco mais sobre a vida e sobre a capoeira. Na foto estão os contramestres Robson & Chico, do CAC-PB, ladeados pelo Mestre Casquinha, do Rio de Janeiro.

"Há momentos em que a capacidade humana é tão cruel, que acaba se tornando uma arma para sua alta destruição.

Andamos por caminhos muitas vezes desconhecidos, sempre tentado descobrir algo novo, diferente, tentando adquirir novos conhecimentos, novas culturas, conhecer pessoas, enfim, atrás de coisas que nos acrescente.

Na CAPOEIRA, existem pessoas que conseguem descobrir a primeira vista, algo que leva seu conhecimento a um patamar mais elevado de vida, por exemplo: são inúmeras as pessoas que vivem isoladas, escondidas das curiosidades que as cercam, querendo saber até onde pode chegar a sua capacidade, seu potencial, suas qualidades fazendo assim com que se tranque interiormente e duvidando até mesmo do seu próprio conhecimento, tornando-a insegura, tímida e incapaz de desenvolver seu talento.

Porém, a partir do momento que você descobre seu talento, sua beleza, sua liberdade de expressão, tanto física, como mental, se desenvolve de forma tão forte que ninguém irá destruir, pois, haverá grandes (trans) (in)formações em seu interior, e assim, quebrará as barreiras da incapacidade, da vergonha e do preconceito que existe dentro de você!" (Robson - Capoeira Angola Comunidade - PB).

Axé - Bené

Grupo Zumbi de Culturas Populares

Capoeira nas Pegadas da Estrada Real de Minas Gerais

Matéria publicada no portal Jornal do Capoeira em 22/01/2006

Esta é a crônica final desta série, na qual o professor e Historiador Luís Antônio Miranda apresenta seus pontos de vista sobre a trajetória da Capoeira no Brasil

Por Benedito dos Santos

Grupo Zumbi de Cultura Populares

João Pessoa - Paraíba

Finalizando nossa série de artigos sobre o tema "A Volta ao Mundo e as Pegadas da Estrada Real de Minas Gerais", registraremos um pouco do excelente trabalho que vem sendo realizado pela moçada da cidade de São João Del Rey.

Desta vez apresentamos a entrevista gravada com o professor Luís Antônio Miranda, que é professor de história e membro do Instituo Histórico e Geográfico da cidade de São João Del Rey. Tal entrevista foi realizada durante o sétimo batismo e troca de cordas do Grupo de Capoeira Arte da Capoeira. O professor Luís Antonio, enquanto cedia-nos a entrevista, a fez utilizando-se de um conjunto de ilustrações de uma série de fotos históricas dos eventos já realizados em Piedade do Rio Grande - MG. Luís Antonio é uma das grandes promessas da capoeira daquela região e para nossa felicidade o professor está estudando a possibilidade de passar a compor o Time Editorial do Jornal da Capoeira. Com isto, temos a certeza de que não apenas a capoeira daquela região, mas mesmo a capoeira de todo o Estado de Minas Gerais estará sendo bem representada em nosso jornal.

Vamos à entrevista.

Jornal do Capoeira: Professor Luís Antônio, mediante palestra da professora Edilene enfocando o tema escravidão, qual seu ponto de vista em relação as colocações narradas pela mesma?

Prof. Luís Antônio: "O que ela narrou foi excelente, porque ela percorreu a história desde a origem da escravidão, falando não somente do negro, passou pela escravidão que teve seu início na Grécia, no continente antigo, quando o negro ainda não estava presente naquela área. Eram apenas pessoas ligadas a guerra, eram prisioneiros de guerra que passaram a ser escravos. Na seqüência a professora Edilene chegou mais próximo de nossos tempos, falou da escravidão entre os séculos XVI e XVIII, falando inclusive da escravidão indígena na fase do descobrimento do Brasil. Sabemos que Índio não se adaptou àquele tipo de trabalho, e os colonizadores foram obrigados à recorrer ao continente Áfricano para suprir sua "demanda de mão de obra". Na época, sabia-se que na África podia-se encontrar indivíduos mais acostumados às condições da lida do dia-a-dia. Sobre a palestra da professora Edilene o que tenho a dizer é que foi uma explanação excelente. Em se tratando da Capoeira, considero que o enfoque dado foi muito importante no sentido de resgate, porque ultimamente, a capoeira na nossa região estava voltada somente para a época do carnaval, passando a época do carnaval, a gente não via mais a capoeira. A partir do momento que os grupos passaram a se unir, o crescimento da Capoeira em nossa região tem sido maior. Percebe-se, claramente, que a união de todos está fazendo a capoeira mundialmente famosa."

JOC: Qual a sua opinião com relação a capoeira e a negritude?

Prof. Luís Antônio: "Como disse a professora Edilene, a capoeira nasceu da força do negro. Porque o negro, com a suas manifestações, ele mostrou o quanto é importante não só assimilar a luta com o dia-a-dia, mas também, dentro da luta, ele mostrar, que era uma dança. E ele conseguiu não apenas mostrar para o branco a Capoeira, mas fez com que ela sobrevivesse a tudo e a todos, chegando até os dias atuais."

JOC: Como o Sr. vê a capoeira enquanto cultural?

Prof. Luís Antônio: "Enquanto cultura é uma manifestação muito boa, pois envolve a juventude e as crianças, tirando-as do meio da rua, levando-as a ter uma noção maior de responsabilidade, compromisso, e buscar pela cidadania. Dentro da capoeira a criança passa a ter uma visão totalmente diferente daquilo que foi ensinado no passado " falo sobre história, por exemplo-, e quando chega à juventude e à idade adulta, torna-se um cidadão mais consciente. Em termos de prática à meia idade percebemos que a capoeira tem também sido muito praticada, fazendo-se que os cidadãos "da melhor idade" incluam a capoeira com uma ferramenta de, dia-a-dia, vencer seus um obstáculos".

JOC: Fale sobre utilização da Internet e a capoeira?

Prof. Luís Antônio: "A Internet tem sido um recurso excelente, pois por meio dela se tem conseguido unir a maioria, se não todos os pólos. Foi como vimos no encontro anterior no Rio de Janeiro, todo o povo reunido, todos os cinco continentes, e a internet foi muito importante para concretizar aquela ação. Veio gente de todo o mundo, e esteja-se onde estiver, por meio da internet, saber-se-á o que está acontecendo em qualquer porte do mundo". Sentenciou o professor.

JOC: Qual sua avaliação sobre o 7º Batizado e troca de cordas de São João Del Rey?

Prof. Luís Antônio: "O evento teve sua interação, e isto não aconteceu somente entre os capoeiristas, pois contou também com o povo. Meu ponto de vista é que essa preocupação com o povo é tudo que a capoeira estava precisando. Um se preocupou aqui, outro se preocupou ali, e fazendo-se a ligação de tudo deu neste evento grandioso que nós participamos. Desta forma a capoeira nunca vai morrer, e vai estar sempre forte!", justificou.

JOC: Como historiador, que sua mensagem para os capoeiristas?

Prof. Luís Antônio: "Desde quando Deus criou o mundo, sendo ele um espírito, ou seja não sendo ele nem do sexo A e nem do sexo B, ele abraça todos os povos indistintamente. Assim deve ser a Capoeira: para todos, indistintamente de sexo, raça, religião, idade etc", finalizou o professor Luís Antônio Sacramento Miranda.

Até parece que o professor Luís Antônio estava prevendo que no despertar deste novo ano a equipe do Jornal do Capoeira estaria dedicando-se exatamente à um tópico que buscasse debater a questão das igualdades e direitos, no caso Direito da Mulher Capoeira. Tanto é que estabelecemos o ano de 2006 com Ano Internacional da Mulher Capoeirista.

Como saideira, Luís Antônio nos brindou com o poema Soneto Genealógico Abade de Jazente:

Qualquer homem, como eu, tem 4 avós;

Estes 4, por força, dezesseis;

Sessenta e quatro a este contareis

Eu só três gerações que expomos nós.

Se o cálculo procede, espertai vós

Que pela proa vem 56

Sobre duzentos mais, que lhes darei,

Qual chapéu de cardeal! Que palha os nós.

Se um homem só dá tanto cabedal

Dos ascendentes seus, que farão mil?

Uma província? Todo o Portugal?

Por esta conta, amigo, ou nobre, ou vil,

Sempre és parente do marquês de tal,

E também do porteiro Afonso Gil.

(Dário Cardoso Vale - Memória Histórica de Prados)

por Luís Antônio S.Miranda.

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Nota do Editor do Jornal do Capoeira:

Agradecemos imensamente ao nosso colunista e pesquisador da Capoeira na Paraíba Benedito dos Santos (Bené) por mais esta aproximação. Damos as boas vindas ao professor Luís Antonio neste Editorial do Jornal do Capoeira. Estendemos um tapete vermelho virtual, porém sincero, para que se achegue à nosso time.

A partir das próximas semanas estaremos contando então com contribuições da região de São João Del Rey, e quiçá escrevendo sobre toda a Capoeira de Minas Gerais.

Sobre as ilustrações, na primeira temos o Prof. Luís Antonio proferindo palestra, na seqüência temos uma amostra do futuro da Capoeira de São João Del Rey, e nas seqüentes pudemos constatar que nosso "escriba" (Bené) não apenas estuda e escreve sobre capoeira e cultural. Ele "cai pra dentro" da Roda mesmo. É isso aí Bené, "Iê dá volta ao mundo...".

É justo salientar que enquanto Luis palestrava e Bené vadiava, a intrépida fotografa da família, a Patrícia Moura Fernandes, tratava de registrar os momentos.

Mui Cordialmente,

Miltinho Astronauta

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ASSOCIAÇÃO CULTURAL BERIMBAU VIOLA: EXEMPLO DE CIVISMO E CULTURA

O Blog do Grupo Zumbi de Cultura Popular, traz até vocês, em entrevista exclusiva, a panorâmica geral do que foi o IV Encontro Berimbau Viola, evento produzido pela Associação Cultural Berimbau Viola, liderada pelo Mestre Chico e Mestre Robson. Vocês se maravilharão com as belíssimas fotos produzidas durante esses três dias. Vamos nos deliciar o excelente papo com o mestre Robson!

Mestre Robson, chega ao final do IV Encontro do Berimbau Viola, esse ano com um movimento interno. Foi o esperado?

MR “Não extrapolamos as expectativas, posso dizer que estamos em andamento, as coisas vão se construindo, a gente vai vendo que de acordo com a construção, a gente vai observando que as pessoas, os alunos, vão tendo a informação, tiram suas dúvidas e começam a crescer! – esse IV Encontro começou do jeito que gente pensou, que seria algo interno e seria realmente para tirar essas duvidas e ter sido de grande valia, as informações passadas aqui. Acredito que é isso aí. Se a gente não fizer por onde manter tradição, os costumes dessa cultura viva, como a gente está fazendo hoje, agora, posso dizer que são uma hora da madrugada, falando sobre capoeira, daqui a alguns anos, ou daqui a dez anos, ninguém mais vai saber o que é capoeira. Então é necessário que a gente tenha realmente esforço , realizando encontros como esse aqui e motivar as pessoas e a comunidade a ter mais consciência com a história da capoeira!

Mestre Robson, foi colocado na questão do projeto social e dentro desse projeto social a sociedade tem chegado junto ao berimbau viola e dado esse suporte?

MR “Sim, o pessoal não só presencialmente na roda, poder vê presenciar, eu digo assim: presente com os seus filhos, eles tem acompanhado o filho, levado o filho para a aula, observado a aula e levam o filho pra casa consciente de ver o filho num ambiente onde tem disciplina, educação, respeito, aprende muito sobre honestidadeacho importante e vejo que não é somente os pais, mas também as empresas, algumas empresas tem observado que a ligação da população com a cultura precisam também de um apoio e eles tem feito isso, aqui na nossa comunidade de forma produtivo, não somente pra obter alguma coisa em troca, mas satisfazer a vontade daquela criança, daquele pai de ver seu filho na roda de capoeira, sorrindo, brincando, abraçando seu mestre, confiante, até mesmo tempo que se vive hoje bené, muitos pais estão desconfiados com respeito as pedofilia, então quando você vê a criança abraçar o mestre com carinho e respeito, você vê que realmente aquela disciplina tem resultado sim, e faz a comunidade aceite a capoeira não somente pela forma como ela é aplicada, mas pelo comportamento e atitude do mestre com os seus alunos!

Mestre Robson- O Berimbau Viola tem como meta fazer reunião ou os pais cobra reunião do grupo no que diz respeito a seus filhos?

O grupo berimbau viola, mensalmente a gente pede aos pais a que venha participar de uma reunião nossa, e nessas reuniões a gente debate muito sobre a escola, comportamento da criança, e pede muito que os pais venham também contribuir, que é assim, se a gente não fizer essas reuniões, tem aluno que a gente não sabe nem quem é os pais, vai pra casa, volta, passa ano e nunca vi o pai dessa criança, então é assim, a cobrança dos pais na aula é de grande valia porque ele também começa a observar os próprios erros ele comete dentro de casa, o mestre ta a vez La, falando e ensinando o era para o pai esta ensinando e ali ele passa a também ter uma aula, acho isso fundamental! Na relação diálogo social, o berimbau adota o dialogo da transparência das idéias.

Mestre Robson, o dialogo entre família e pratica de capoeira?

MR. Bené, pra falar diretamente do comportamento de cada integrante da escola, é entrar também na história de nossos antepassados, você veja que por um trabalho afro descendente, a gente vê que toda ligação africana, todo comportamento africano, é algo muito familiar, o povo é muito unido, é um povo que dá a mão pra ajudar ao outro, existe aquela preocupação da pessoa em si, um com o outro! E dentro do trabalho na capoeira, a gente procura manter essa tradição, a gente não tem interesse que o aluno seja somente mais um integrante dentro do trabalho, a gente que mesmo que ele se torne um cidadão, a gente quer que ele se encontre com ele mesmo e passe a entender que ele é um ser humano, que é livre e que tem liberdade, não somente de expressão corporal para poder chegar na roda e jogar capoeira, mas também ele é livre na mentalidade, então assim, fazer com a criança venha a estudar, a fazer o BA Ba, não somente da roda do seu caderninho e da sua caneta, aprender o que é a letra, escrever, poder chegar pra mãe e dizer, mãe! Hoje eu aprendi que um mais um é dois, então é assim, fazer com que as pessoas venham também, se colocar numa certa posição onde elas iram vê que há uma necessidade delas se organizar, acho isso importante Bené, se nós na capoeira conseguimos fazer com que o viciado, ele venha deixar de ser viciado na droga, para ser viciado na musica, utilizando instrumentos, se tornar viciado em praticar movimentos corporais e passar a ter uma mentalidade que o mundo de hoje vivemos, não é o mundo de 20, 30 anos atrás. Isso é de grande valia para o grupo, e é de grande valia pra própria pessoa, a gente faz entender que na pratica da capoeira, ele não vai somente se libertar do vicio, vai se libertar de um sistema que aprisione rele num determinado lugar que não consegue respirar, então faz com cada um dele, ou seja, faz com que a pessoa venha a entender que ela é livre, então isso é de grande valia, para mim, como mestre, vendo um aluno se libertando de um problema e até mesmo causando uma revolução, porque quando ele passa a aprender ele começa a questionar, começa a perguntar, como você viu hoje. Frisou mestre Robson, que continuou pontuando os caminhos.

- Segundo mestre Robson a importância do trabalho é o resultado onde todos ganham e se sentem vitoriosos. Como podemos constar nesses três dias de convivência dentro do IV Encontro Berimbau Viola.

Mestre Robson, ontem foi um momento diferente, a abertura do IV Encontro Berimbau Viola, no Ateliê Multicultural Elioenai Gomes. Qual o seu ponto de vista ao experimentar outros módulos de atividade coletiva multiculturais?

MR. Bené, eu vejo o seguinte, nós temos uma cidade linda, João pessoa é uma cidade maravilhosa, a terceira cidade mais velha do Brasil, onde o centro histórico é grande valorização, grande preservação e manter a história da capoeira no centro da cidade, ou seja, no centro histórico, é resgatar uma história que praticamente ta morta, hoje gente não vê uma roda de capoeira no centro, m naco vê uma roda de capoeira nos espaços que são reservados pela cultura e isso os entristece nós que temos essa preocupação com a cultura. Agora falar do ateliê Multicultural Elioenai Gomes, aquele espaço, é um espaço que alem de ser centralizado, é um espaço que você sente uma energia diferente, durante quatro anos de trabalho, entramos em parceria juntamente com o grupo zumbi de cultura popular, a gene passou entender que manter um trabalho forte, é manter um trabalho consciente e para manter um trabalho consciente, tem que se preservar num lugar como justamente é o centro histórico! Sentenciou Mestre Robson.

E disse mais “no centro histórico a gente não tem esse olhar de atrair apenas o turista, mas atrair nossa população capoeiristica que ta abandonando aquele lugar, como você viu, pessoas que conhecem muito bem a capoeira, com mais de vinte anos de pratica e não conhecem um lugar com o Ateliê Multicultural Elioenai Gomes, então isso deixa a gene um pouco triste por vê que as não tem essa valorização, falou o mestre. Bené Curiosidade e busca, não?

MR. Pelo lado do centro histórico! Acho que lavai ser palco de muitos eventos, a abertura do IV Encontro do Berimbau Viola, que foi ontem (04/11/2010) no Ateliê Multicultural Elioenai Gomes, quem teve ali, percebeu que a energia é outra, é totalmente diferente, é diferente de você fazer um evento no espaço cultural, é diferente de você fazer um evento na praia, onde o turista que vê, acho que nós devemos ter essa preocupação de fazer capoeira para turista, quem quiser ver a capoeira, vá La onde está ela, e onde ela está? No centro histórico!

Você veja que em salvador, eles, mantiveram a capoeira e fortaleceram a capoeira no centro histórico, porque sabem que lá é a fonte, é a raiz onde tudo começa, então aqui também... A história da capoeira aqui também onda o centro histórico, ronda a igreja das neves, ronda a lagoa é parque Sólon de Lucena, então ali há uma grande história e a gente agora tem que preservar, juntar essa grande u não que está acontecendo com o berimbau viola e o grupo zumbi de cultura popular e fazer com o ateliê multicultural Elioenai Gomes seja uma grande dentro a população venham a ver como é o jogo da capoeira, inclusive a gente está sentando para fazer com que a capoeira de dentro do ateliê ganhe a rua! E a rua é a onde? A praça onde foi renovada agora a pouco, em frente à delegacia da policia federal, que estava abandonada. Que é a rio braço e hoje está muito linda, e a gente vai reunir nossos amigos da capoeira e fazer aquilo voltar a ser o que era! Acho assim, bene, a praça é um espaço de grande força e se a gente souber preservar, com certeza será e já é pra mim um pelourinho, aquilo ali o pelourinho da Bahia!

Mestre Robson. Nesse quatro anos de berimbau de administração do Berimbau Viola e sua própria trajetória,, como capoeirista, hoje, você no papel de mestre, na figura do mestre, na liderança do mestre e ao mesmo tempo aluno, ao mesmo professor, ao mesmo tempo irmão, ao mesmo tempo pai, ao mesmo tempo tudo isso que a capoeira tem, como diz o sábio e eterno pastinha, a capoeira é tudo que a boca come. Covo você se avalia hoje, um mestre ainda jovem, mas mandando muita sabedoria popular, as dificuldades culturais que lhe abraçam e você consegue discernir isso muito bem, qual é a sua avaliação em cima desses fatores?

MR Bené. Fazer uma auto avaliação de mim assim, é realmente complicado, eu me vejo ainda um aluno, eu me vejo aluno porque assim, todo que eu aprendo, sou menino nessa pratica, eu não vejo capoeira pelo tempo que eu tenho de pratica, eu avalio meu tempo de pratica quando estou justamente na roda. E a roda de capoeira me traz muita emoção, eu me emoção muito em roda de capoeira, e não somente nesses quatro anos de fundação do berimbau viola, onde eu estou dando toda minha energia junto com o mestre Chico, que mestre Chico, pra mim, eu não vejo ele mestre, vejo ele um irmão, que tem uma gama de conhecimento, e que me ajuda muito no momento que eu preciso, e quando eu preciso mesmo alimentar minhas energias, m eu vou pra roda, eu acho que falar de tamanho conhecimento, eu prefiro dizer que aprender capoeira angola, a qual eu pratico, ao lado de grandes mestres que hoje ainda estão vivos e passando energia e inrfomação eu acho que é um grande privilégio. Eu costumo dizer Bené. Hoje a gene vive os sonhos dos nossos antepassados, eles queriam era essa liberdade que a gente tem hoje de poder ensinar e praticar capoeira entendeu! –eu pensei nisso e eu guardei isso pra mim pro resto da vida “eu hoje vivo os sonhos dos antepassados”, que queriam que a capoeira fosse livre como hoje! Finalizou mestre Robson com muita propriedade!

Na próxima edição, Mestre Chico exclusivo para o Blog do Grupo Zumbi de Cultura Popular-canal de comunicação voltada a para a captação e divulgação da capoeira enquanto cultura.

Capoeira, Violência, Projetos Sociais e Sociedade

"I Conferência Internacional da Capoeira Angola", CICA - Avaliação da violência na capoeira, e o uso de nossa arte na promoção da inclusão social: perspectivas e reflexões. Entrevista com Mestre Casquinha, do Rio de Janeiro


Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br

Edição 65 - de 19 a 25/Mar de 2006

Benedito dos Santos

João Pessoa, PB

Março de 2006

Durante a I Conferência Internacional de Capoeira Angola, realizada em João Pessoa-PB, Agosto de 2005, o foco principal foi a Educação. Aconteceram palestras, debates, aulas teórico-práticas sobre o jogo da capoeira e sobre seus fundamentos, oficinas de dança-afro, musicalidade e maculelê, além, é claro, de diversas atrações culturais, com é o caso do Cavalo Marinho e Ciranda do Sol

Em nenhum momento, durante as rodas, a violência esteve presente. Mas não temos como negar: ela está presente no cotidiano da capoeiragem. Os mestres, contramestres e professores são unânimes em admitir sua presença, além de fazerem uma chamada uníssona: "até quando a violência estará presente em nossa arte?".

Será que essa questão da violência dentro da capoeira se resolve com algumas reuniões periódicas entre lideres? Acredito que não. A violência sempre esteve presente dentro da capoeira, e hoje, infelizmente, percebe-se sua evolução, ou seja, a violência está aí para quem quiser verificar. Parece-me até que existe uma distância considerável entre a teoria e a prática: os mestres dizem "vamos resgatar o passado, e recuperar a essência de nossa capoeira, vivê-la como filosofia de vida, como faziam os velhos mestres". Mas o que sobressai é apenas seu lado negativo. Temos que desenvolver pesquisas muito mais apuradas para identificar de onde vem este "mito de violência" na história da Capoeira. Aos poucos vamos identificando fatos e lendas a respeito do que, na historia, foi luta real (pela liberdade) e lutas "encomendadas".

O que será que é fato e o que é lenda? Quem responde?

Aproveitando a presença do Mestre Casquinha (primeira foto, ao lado de Mestre Arerê, ambos representantes da Capoeira Raiz no Rio de Janeiro), oriundo do Rio de Janeiro, Estado com afamado por sua história de capoeiragem, perguntei ao mestre sobre como ele vê a questão da violência dentro da capoeira. Assim se pronunciou o mestre:

"No Rio nós temos toda uma história das Maltas, principalmente das capoeiras Nagô e Guaiamuns, e o que nos entristece, infelizmente, é que algumas pessoas, não todas, trabalham cultuando a violência dentro da capoeiragem. A sociedade, logicamente, não vê isso com bons olhos e acabam tendo uma imagem totalmente errada da capoeira, e em conseqüência disto não respeita nem a capoeira e nem o capoeirista. Mas existem pessoas muito boas em nosso meio, e que procuram preservar exatamente o que acontecia no passado, pois o negro escravo se unia para lutar com o inimigo maior, que era poder público. Temos o afamado Agenor Sampaio, o "mestre Sinhozinho", que não era de brincadeira. Tinha uma capoeira séria (Capoeira Utilitária!). Era uma capoeira luta, e que servia de bom exemplo para a classe jovem carioca antiga (décadas de 1920, 1930...). Felizmente nós temos muitas pessoas no Rio de Janeiro e no mundo da capoeira, que conservam isso, que dizem não à violência na capoeira. A Capoeira é profunda, ela vai muito além do simplesmente "jogar capoeira". Ela, a capoeira em si, já tem seu efeito terapêutico maravilhoso, trabalho muito a questão da lateralidade, desenvolve a coordenação motora de forma espetacular. É bem o caso de alguns de nossos camaradas que trabalham com pessoas "especiais", sendo que nossa capoeira é utilizada para trazer essas pessoas para mais perto da sociedade, mostrando-as que são pessoas de muita utilidade, fazendo-as se sentir útil no mundo moderno.

Mestre Sinhozinho (Agenor Sampaio) ensinando algumas

técnicas de capoeiragem a Kim e Hermanny

Vocês imaginem uma pessoa sentada numa cadeira de rodas, e sem sair da cadeira estar jogando capoeira! Imaginem a pessoa estar sem uma perna, sem um braço, fazendo capoeira, ou mesmo um deficiente visual praticando nossa arte cheia de malandragens. Eu fico imaginando e visualizando as pessoas que tem tais deficiências conseguem fazer muito mais do que as pessoas ditas normais, do que as pessoas que tem braços e pernas. Parece-me que a capoeira proporciona meios para que os "especiais" se superem e lutem pelo seu grau de igualdades para com os demais membros da sociedade. Os "especiais", quanto estão na capoeira, acabam até se esquecendo que tem certas deficiências, é a Capoeira que proporciona tais sentimentos. É uma beleza ver esses "camaradinhas" respondendo ao toque dos berimbaus, à batida dos atabaques, e entrar na cadência do cântico da capoeira. É realmente uma beleza: não tem deficiente que fique parado, que deixe de se mexer...

Em Niterói tem uma pessoa que foi aluno do mestre Boca Rica, e em um acidente ele perdeu as duas pernas. Mas nem por isso ele deixou de participar da arte, e quando está tocando ou jogando sua capoeira ele se sente ótimo, se sente bem. Ele é igual a mim, é igual a todos nós e, acima ele de tudo, ele não pior do que ninguém. Ele é um capoeirista completo. A capoeira tem esta parte fabulosa, mas grande parte da sociedade nem sabe disto. Talvez ela, a sociedade, ainda não tenha se dado conta de que a capoeira está trabalhando com essas pessoas, trabalhando-as de modo a prepará-las para um futuro melhor, e mais digno.

Eu tenho certeza de que a capoeira vai melhorar cada vez mais. Tenho ainda uma outra certeza: quando nós capoeiristas nos unirmos, seremos uma grande potência nacional, uma potência intransponível, e que só então seremos respeitado em todos os lugares". Nos lembrou o mestre Casquinha.

Mestre Casquinha fala com muita propriedade, chegando-nos a doer suas palavras, sobre o tratamento que se é dado à nossa capoeira. Felizmente muitas entidades têm oferecido oportunidades de se trabalhar realmente com "inclusão social", não limitando-se apenas a "projetinho vitrine para angariar voto em anos eleitorais". Percebemos também que a sociedade finge que vê, mas dá as costas para o real poder que a capoeira tem. Chega a negar o inegável: o poder transformador que nossa arte tem para oferecer à própria sociedade.

Talvez isso seja um pouco reflexo da própria questão do mito da violência e marginalização impregnado na história da capoeira. Quando esse mito passar, ou melhor, quando se conseguir separar o joio do trigo, valorizando-se efetivamente a importância de nossa arte como referencial histórico e teórico, acolhendo-se o novo contexto e função de nossa arte, a histórico será outra.

Abusando de Mestre Casquinha, perguntei a ele sobre seu ponto de vista a respeito da tese de que a capoeira teria raízes européias. Alguns mestres chegam a defender a tese de que a capoeira nasceu na Europa, mas temos de convir que se a capoeira tivesse tal raiz, seu sistema seria totalmente diferente do que é. Sou da opinião de que a Capoeira é legado de nossos ancestrais africanos, do negro escravo.

Assim respondeu o mestre.

"Muitos chegam a usam a capoeira, dela tiram proveito, mas na hora de ajudá-la (ajudar-nos!) com afinco, e promove-la, não a promover. Só querem dela tirar proveito, usando-a para seu beneficio próprio. Isto é algo ruim, muito ruim. Porque quem faz isto não está realmente preocupado com a capoeira, eles estão preocupados com si próprios. Espero que um dia eles abram os olhos. Imagine se todos mudarem suas concepções de capoeira, e dela fazer bom uso - no Brasil, são mais de seis milhões de capoeiristas-, com certeza a capoeira contribuirá muito mais com a sociedade. Quem sabe chegue logo este momento, daqui 10, 20 ou 30 anos. Chego a imaginar a Capoeira estando em todos os lugares, dentro da escola, do teatro, da academia de dança, lá na Europa, nas instituições dos APAE (Associações dos Pais e Amigos dos Excepcionais), trabalhando com pessoas especiais... Teremos um futuro muito melhor, não há como negar. Espero que em um futuro bem próximo o "sistema" que trabalha com a cultura, esporte, e educação conscientize-se de que devem ter um olhar mais profundo para com nossa capoeira.

Hoje eu posso dizer isso com propriedade, já fui moleque da rua, vivi na rua, fui de colégio interno e hoje se eu sou um bom cidadão. Se adquiri o meu respeito, eu agradeço a capoeira. O mesmo tem acontecido com muita gente em nossa sociedade, pois conheço muita gente que passou pelas mesmas dificuldades que eu, e a capoeira presenteou-as também com uma vida melhor. Olha que beleza!

Eu desenvolvo um trabalho com uma aluna que é professora da UF (Universidade Fluminense), e faço um trabalho terapêutico através da capoeira com ela e com outras pessoas. A capoeira não é só jogar capoeira, a capoeira para mim ela só está acima de tudo, ela é uma eterna terapia, ela não é só para crianças ou para os jovens, é também, como nós sabemos, para o pessoal da "melhor idade" (idoso). É também para "criança, menino e a mulher", certo!

Só que as pessoas, infelizmente, ainda são muito preconceituosas para com a capoeira. Espero que através desse trabalho que vocês desenvolvem em João Pessoa, através do mestre Naldinho (foto ao lado) e de outros, que consigam vencer os preconceitos do sistema e que tirem esse ranço associado à nossa capoeira. Desejo que vocês abracem, cada vez mais, nossa capoeira, esta arte criada verdadeiramente no Brasil! Ela é o único esporte genuinamente brasileiro, é a capoeira, e não outro esporte com futebol etc, que temos que respeitar. Porque não inserir a capoeira dentro da escola e outros lugares mais? Porque não? Eu espero meu caro, representante do Jornal do Capoeira, vocês precisam ajudar-nos a tirar esse ranço, esse preconceito, ajudando também que a própria sociedade passe a respeitar mais nossa capoeira. Você bem sabe que temos muito a oferecer". Finalizou o Mestre Casquinha.

Nós, responsáveis por este veículo da sociedade capoeirística que é o Jornal do Capoeira, concordamos com o mestre Casquinha, e acrescentando que já existe mobilização nesse sentido, que é colocar em prática a Lei 10.639/03 que trata dos Conteúdos de História da África e História do Negro nos Currículos do Ensino Fundamental e Médio. Estaremos sempre atentos no sentido de nunca mudar o nosso foco, que é a captação e divulgação de todo e qualquer material de importância ao resgate do contexto histórico que envolva as práticas das culturas populares, principalmente a capoeira.

Pois bem, os bastidores da "I Conferência Internacional de Capoeira Angola", nos gerou bons frutos, documentamos boa quantidade de informações, que refletem, de certa forma, alguns trabalhos desenvolvidos aqui na Paraíba, na Bahia e também no exterior, com as participações dos mestres Maykon de (Nova York, Estados Unidos) e Dinelson da Bahia. E nada mais justo também do que agradecer parabenizando a comunidade local e os demais camaradas que estiveram também conosco naquela primeira conferência. Outras virão, aguardem.

À partir da próxima edição estaremos escrevendo sobre as capoeiras de nosso cotidiano (Paraíba!), e mais adiante retornamos à mais algumas crônicas fruto também da "I Conferencia Internacional de Capoeira Angola".

Até a próxima!

Bené Zumbi

Capoeira na Paraiba: no despertar de 2006

Crônica por Benedito dos Santos, o Bené, sobre a avaliação da participação da capoeira paraibana no Jornal do Capoeira

Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br

Edição 59 - de 05 a 11/Fev de 2006

Por Benedito dos Santos

Grupo Zumbi de Cultura Populares

João Pessoa - Paraíba





Nota do Editor:
Por e-mail recebemos contribuições, críticas sempre construtivas e sugestões a respeito de ampliarmos cada vez mais a representatividade da Capoeiras nos estados. Confesso que esta tem sido uma das partes que temos nos empenhado mais, ou seja, de arrebanhar mais colaboradores para enviarem crônicas, artigos e informações diversas sobre as Capoeiras que acontecem por estes nossos brasís, e mesmo no exterior. Somente com mais colaboradores é que nosso Jornal do Capoeira alcançará a representatividade almejada não apenas por nós, mas por todos.
Para este ano de 2006 colocamos como meta a de ampliar o quadro de colaboradores, tendo-se pelo menos um crônista por Estado, além de fortalecer os estados que já temos nossos colunistas. As contribuições são totalmente espontâneas, e nossos colaboradores acabam por fazê-lo mais por amor à arte do que por algum tipo de retorno em si. É claro, acabamos, vez ou outra, refletindo o que aspectos relacionados ao que vivenciamos no dia-a-dia e em nossas regiões.
Aproveito a carona nesta crônica do Bené da Paraíba para agradecer as contribuições preciosas que já temos alcançado, e para conclamar novos colaboradores para entrar no barco, ou melhor, entrar na roda, e participarem do jogo. "Berimbau tocô... berimbau tocô, camará".
Quem atenderá ao chamado do Gunga?

Capoeiristamente,
Miltinho astronauta

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Benedito dos Santos


Caros leitores do Jornal do Capoeira, acredito que vocês não ficaram satisfeitos só com a matéria que o nosso editor Miltinho colocou no ar em sua ultima edição de 2005, isso se referindo a uma retrospectiva do que foi o ano.

Na condição de representante do Estado da Paraíba, acredito termos conquistado, para os capoeiristas daqui, um espaço aberto para veiculação de nossas informações, antes jamais tão amplamente divulgadas. Considerando-se ser o Jornal do Capoeira um veículo sem vícios - até porque, na sua idade (pouco mais de um ano), é impossível ter vícios, exceto o de toda criança: toda pureza da verdade. Como dizia o saudoso Gonzaguinha: "Eu fico com a pureza das respostas das crianças, é bonita! É bonita!".

Pois bem, envolvidos nesse clima de trabalho sério, sou fisgado que nem peixe no anzol pelo "seu" Miltinho Astronauta e o mesmo me imbuiu de colocar toda a verdade da cultura popular paraibana, principalmente a capoeira, mostrando toda a verdade dessa arte tão brasileira e assim, percorremos todo o ano de 2005. Por conta da transição final/início de ano, consequentemente, a capoeira paraibana entrou em recesso geral, mas aos poucos vão se esquentando os atabaques, pandeiros e os berimbaus, que o ano movo já esta na estrada!

O ano de 2005 foi um ano de grandes conquistas para a capoeira paraibana. Acredito ter contribuído com o processo, sendo que várias matérias foram elaboradas e editadas, várias entrevistas realizadas e valorizadas as falas dos seus autores, estão aí no ar para todos poderem conferir! Só para dar um sentido de retrospectiva, citamos: as entrevistas dos 15 anos da Palmares em João Pessoa; Festival da Capoeira Angola Comunidade; a criação da Divisão de Cultura Popular pela Prefeitura Municipal de João Pessoa; a secretaria de ação das minorias raciais. E isso é muito importante para a história da capoeira paraibana, pois acabou o eu "ouvi falar", esta arquivado, agora é história, leiam no jornal, naveguem, pois isto faz crescer!

Agora para 2006, o nosso jornal está passando por renovação visuais, coisa de guri sapeca e pais corujas. Mas tudo isto, caro leitor, deixando de lado as brincadeiras, é para lhes dar conforto editorial e vocês terem a certeza que existe um veículo de informação realmente preocupado com o "bem informar". Este é o nosso propósito. Esta é o propósito maior do Jornal do Capoeira.

Pois bem, o suor está começando a pingar por aqui, e logo logo tudo volta a ser notícia, vamos sacudir a galera! O que já conseguimos apurar até agora: o Grupo Zumbi de Cultura Popular já teve suas atividades iniciadas desde o dia 03 de janeiro; a Capoeira Angola Comunidade, além da avaliação do festival2005, CICA e outras ações, o Pérola Negra e a Associação Cultural Badauê, prometem grandes surpresas para esse ano. Sobre os demais, estamos batendo na porta para ver se estão acordados. Ah! Da Alemanha, nosso onbusman, não deixa passar uma, valeu Moreira! No mais pessoal, vamos editar junto com essa crônica uma série de fotos que por si só, contam um monte de fatos. Na primeira foto, registrada por um "paparazzi" de plantão, em São José dos Campos-SP, está quem vos escreve, acompanhado pela guerreira e esposa Marli, e também por nosso editor e sua esposa Keila, a mandingueira "Italianíssima".

No mais vamos levando a vida, escapando feito gás (projeto 50). Até a próxima!


Bené Zumbi




CAPOEIRA: Momentos na Paraíba - 2005

No jogo de angola



Abertura do CICA: mestre Naldinho



Essência da mandinga: M. Maikon e Cm. Moreira



Camaradagem e confiança, mas de olho aberto, é claro



Quebra, quebra gereba, quebra tudo hoje, amanhã...



Platéia também participa do "jogo"



Mestre Maikon (EUA) falando aos presentes



Mestres Naldinho (PB), Maykon (EUA) e Dinelson (BA)



Capoeira é pra hóme, mininu e mulé