quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Capoeira nas Pegadas da Estrada Real de Minas Gerais

Matéria publicada no portal Jornal do Capoeira em 22/01/2006

Esta é a crônica final desta série, na qual o professor e Historiador Luís Antônio Miranda apresenta seus pontos de vista sobre a trajetória da Capoeira no Brasil

Por Benedito dos Santos

Grupo Zumbi de Cultura Populares

João Pessoa - Paraíba

Finalizando nossa série de artigos sobre o tema "A Volta ao Mundo e as Pegadas da Estrada Real de Minas Gerais", registraremos um pouco do excelente trabalho que vem sendo realizado pela moçada da cidade de São João Del Rey.

Desta vez apresentamos a entrevista gravada com o professor Luís Antônio Miranda, que é professor de história e membro do Instituo Histórico e Geográfico da cidade de São João Del Rey. Tal entrevista foi realizada durante o sétimo batismo e troca de cordas do Grupo de Capoeira Arte da Capoeira. O professor Luís Antonio, enquanto cedia-nos a entrevista, a fez utilizando-se de um conjunto de ilustrações de uma série de fotos históricas dos eventos já realizados em Piedade do Rio Grande - MG. Luís Antonio é uma das grandes promessas da capoeira daquela região e para nossa felicidade o professor está estudando a possibilidade de passar a compor o Time Editorial do Jornal da Capoeira. Com isto, temos a certeza de que não apenas a capoeira daquela região, mas mesmo a capoeira de todo o Estado de Minas Gerais estará sendo bem representada em nosso jornal.

Vamos à entrevista.

Jornal do Capoeira: Professor Luís Antônio, mediante palestra da professora Edilene enfocando o tema escravidão, qual seu ponto de vista em relação as colocações narradas pela mesma?

Prof. Luís Antônio: "O que ela narrou foi excelente, porque ela percorreu a história desde a origem da escravidão, falando não somente do negro, passou pela escravidão que teve seu início na Grécia, no continente antigo, quando o negro ainda não estava presente naquela área. Eram apenas pessoas ligadas a guerra, eram prisioneiros de guerra que passaram a ser escravos. Na seqüência a professora Edilene chegou mais próximo de nossos tempos, falou da escravidão entre os séculos XVI e XVIII, falando inclusive da escravidão indígena na fase do descobrimento do Brasil. Sabemos que Índio não se adaptou àquele tipo de trabalho, e os colonizadores foram obrigados à recorrer ao continente Áfricano para suprir sua "demanda de mão de obra". Na época, sabia-se que na África podia-se encontrar indivíduos mais acostumados às condições da lida do dia-a-dia. Sobre a palestra da professora Edilene o que tenho a dizer é que foi uma explanação excelente. Em se tratando da Capoeira, considero que o enfoque dado foi muito importante no sentido de resgate, porque ultimamente, a capoeira na nossa região estava voltada somente para a época do carnaval, passando a época do carnaval, a gente não via mais a capoeira. A partir do momento que os grupos passaram a se unir, o crescimento da Capoeira em nossa região tem sido maior. Percebe-se, claramente, que a união de todos está fazendo a capoeira mundialmente famosa."

JOC: Qual a sua opinião com relação a capoeira e a negritude?

Prof. Luís Antônio: "Como disse a professora Edilene, a capoeira nasceu da força do negro. Porque o negro, com a suas manifestações, ele mostrou o quanto é importante não só assimilar a luta com o dia-a-dia, mas também, dentro da luta, ele mostrar, que era uma dança. E ele conseguiu não apenas mostrar para o branco a Capoeira, mas fez com que ela sobrevivesse a tudo e a todos, chegando até os dias atuais."

JOC: Como o Sr. vê a capoeira enquanto cultural?

Prof. Luís Antônio: "Enquanto cultura é uma manifestação muito boa, pois envolve a juventude e as crianças, tirando-as do meio da rua, levando-as a ter uma noção maior de responsabilidade, compromisso, e buscar pela cidadania. Dentro da capoeira a criança passa a ter uma visão totalmente diferente daquilo que foi ensinado no passado " falo sobre história, por exemplo-, e quando chega à juventude e à idade adulta, torna-se um cidadão mais consciente. Em termos de prática à meia idade percebemos que a capoeira tem também sido muito praticada, fazendo-se que os cidadãos "da melhor idade" incluam a capoeira com uma ferramenta de, dia-a-dia, vencer seus um obstáculos".

JOC: Fale sobre utilização da Internet e a capoeira?

Prof. Luís Antônio: "A Internet tem sido um recurso excelente, pois por meio dela se tem conseguido unir a maioria, se não todos os pólos. Foi como vimos no encontro anterior no Rio de Janeiro, todo o povo reunido, todos os cinco continentes, e a internet foi muito importante para concretizar aquela ação. Veio gente de todo o mundo, e esteja-se onde estiver, por meio da internet, saber-se-á o que está acontecendo em qualquer porte do mundo". Sentenciou o professor.

JOC: Qual sua avaliação sobre o 7º Batizado e troca de cordas de São João Del Rey?

Prof. Luís Antônio: "O evento teve sua interação, e isto não aconteceu somente entre os capoeiristas, pois contou também com o povo. Meu ponto de vista é que essa preocupação com o povo é tudo que a capoeira estava precisando. Um se preocupou aqui, outro se preocupou ali, e fazendo-se a ligação de tudo deu neste evento grandioso que nós participamos. Desta forma a capoeira nunca vai morrer, e vai estar sempre forte!", justificou.

JOC: Como historiador, que sua mensagem para os capoeiristas?

Prof. Luís Antônio: "Desde quando Deus criou o mundo, sendo ele um espírito, ou seja não sendo ele nem do sexo A e nem do sexo B, ele abraça todos os povos indistintamente. Assim deve ser a Capoeira: para todos, indistintamente de sexo, raça, religião, idade etc", finalizou o professor Luís Antônio Sacramento Miranda.

Até parece que o professor Luís Antônio estava prevendo que no despertar deste novo ano a equipe do Jornal do Capoeira estaria dedicando-se exatamente à um tópico que buscasse debater a questão das igualdades e direitos, no caso Direito da Mulher Capoeira. Tanto é que estabelecemos o ano de 2006 com Ano Internacional da Mulher Capoeirista.

Como saideira, Luís Antônio nos brindou com o poema Soneto Genealógico Abade de Jazente:

Qualquer homem, como eu, tem 4 avós;

Estes 4, por força, dezesseis;

Sessenta e quatro a este contareis

Eu só três gerações que expomos nós.

Se o cálculo procede, espertai vós

Que pela proa vem 56

Sobre duzentos mais, que lhes darei,

Qual chapéu de cardeal! Que palha os nós.

Se um homem só dá tanto cabedal

Dos ascendentes seus, que farão mil?

Uma província? Todo o Portugal?

Por esta conta, amigo, ou nobre, ou vil,

Sempre és parente do marquês de tal,

E também do porteiro Afonso Gil.

(Dário Cardoso Vale - Memória Histórica de Prados)

por Luís Antônio S.Miranda.

...................................................................................

Nota do Editor do Jornal do Capoeira:

Agradecemos imensamente ao nosso colunista e pesquisador da Capoeira na Paraíba Benedito dos Santos (Bené) por mais esta aproximação. Damos as boas vindas ao professor Luís Antonio neste Editorial do Jornal do Capoeira. Estendemos um tapete vermelho virtual, porém sincero, para que se achegue à nosso time.

A partir das próximas semanas estaremos contando então com contribuições da região de São João Del Rey, e quiçá escrevendo sobre toda a Capoeira de Minas Gerais.

Sobre as ilustrações, na primeira temos o Prof. Luís Antonio proferindo palestra, na seqüência temos uma amostra do futuro da Capoeira de São João Del Rey, e nas seqüentes pudemos constatar que nosso "escriba" (Bené) não apenas estuda e escreve sobre capoeira e cultural. Ele "cai pra dentro" da Roda mesmo. É isso aí Bené, "Iê dá volta ao mundo...".

É justo salientar que enquanto Luis palestrava e Bené vadiava, a intrépida fotografa da família, a Patrícia Moura Fernandes, tratava de registrar os momentos.

Mui Cordialmente,

Miltinho Astronauta

Nenhum comentário:

Postar um comentário