Benedito dos Santos (Bené)
João Pessoa-PB
Fevereiro-2005
Há anos que "rola" na cidade de João Pessoa, uma polêmica com relação à produção cultural da cidade, desde que a Fundação Cultural de João Pessoa " FUNJOPE - assumiu os novos postos que a comunidade artística da capital vem discutindo sobre os projetos do Fundo Municipal de Cultura que ficaram pendentes desde 1997.
A artista Cátia de França foi o alvo principal das discussões, ela é acusada de utilizar de forma errada os recursos do seu projeto aprovado pelo Fundo Municipal de Cultura na ordem de nove mil reais.
Cátia de França, que no período de concessão dos benefícios passava por dificuldades financeiras, tipo água, luz, telefone e gêneros alimentícios.
O ex-diretor da Funjope Antônio Alcântara disse que a discussão sobre a artista é antiga e que o processo já saiu das instâncias da Funjope há mais de um ano, "se foi engavetado ou não isso está lá com a Procuradoria. Não é mais com competência da instituição", comentou o diretor que disse também que muitos artistas paraibanos não sabem trabalhar com as verbas que recebem e na sua gestão montou uma equipe para ajudá-los.
Amigos pessoais da cantora dizem que ela não fala com ninguém e que sente muito desgosto. O jornalista Ricardo Anísio, que também foi produtor da cantora no disco "Avatar", comenta que a discussão sobre Cátia passa pelo lado humano. "Ela utilizou o dinheiro para comer porque estava passando fome" disse. Na opinião de Ricardo Anísio, as pessoas que estão nos órgãos de cultura deveriam ser penalizadas por não apoiar uma obra que ela estava para musicar sobre o "ciclo da cana-de-açúcar" de autoria de José Lins do Rego. "Isso seria de maior interesse para os órgãos de cultura. Isso sim é um crime. Quem vai culpá-los por esse crime?" questionou.
O produtor cultural Chico Noronha e também amigo de Cátia de França considera as polêmicas injustas e cansativas. Para Noronha, a cantora não pode ser espelho para que muitos se sobressaiam às custas de opiniões infundadas de pessoas que não tem nenhum envolvimento com a arte de nosso Estado.
Sobre o desaparecimento do processo sobre o caso específico da cantora, o atual diretor da Funjope, Luiz Carlos Vasconcelos, explicou que o processo de Cátia de França havia sumido da Procuradoria Municipal e que há pouco surgiu da Secretária de Educação. "Um detalhe que vale a pena dizer é que agora não é o procurador sozinho que vai resolver o caso e sim a procuradoria que vai decidir os destinos judiciais de todos os artistas", comentou. A intenção do diretor não é prejudicar nenhum artista. Os diretores da instituição estão estudando uma forma de Cátia de França pagar o que deve a Funjope da melhor maneira possível, sem prejuízos para ninguém.
A idéia principal da nova gestão da Funjope é promover um Fórum Municipal de Cultura para que todas as questões sobre as leis, conselhos e fundos, além de criar uma forma de melhor fiscalizar os projetos e as ações, para que fatos desta natureza não voltem a acontecer. "Não queremos privilegiar ninguém. Cada caso será analisado com cuidado", acrescentou Luiz Carlos Vasconcelos.
É realmente lamentável que fatos como esses ganhem conotações desproporcionais aos valores que a artista Cátia de França, como profissional de cultura, está sendo tratada. Eu particularmente tive a oportunidade de acompanhar alguns ensaios de Cátia, conversar sobre cultura popular, ver seu engajamento em mostrar as raízes da sua terra natal e aí vêm fatos como esses. Lamentável! Chico Noronha tem razão quando considera injustas e infundadas certas opiniões de pessoas que nem do ramo cultural pertencem.
Vale salientar também que Cátia de França já foi agraciada com a "Medalha Augusto dos Anjos", em reconhecimento artístico por sua luta em defesa da cultura da região. Um outro ponto em favor de Cátia, em uma de suas últimas apresentações, no Projeto Seis e Meia, a mesma foi aplaudida de pé pela platéia assídua do projeto, projeto esse que envolve grandes nomes da música popular brasileira e é sempre precedido de uma atração local.
O Jornal do CAPOEIRA não toma partido, ficamos no aguardo de uma solução pacifica e torcemos que a integridade artística e humana de Cátia lhes sejam resguardadas, respeitem o silêncio de Mozart, os encantos da Elis, a magia de Cartola, Pixinguinha, Bezerra da Silva, Adoniran Barbosa, Lúpicinio Rodrigues, as verdades de mestre Pastinha, de mestre Bimba e de todos aqueles que em suas vidas mostraram, de forma clara e transparente, os nossos valores culturais. Reciclem suas "ignorâncias culturais" e pensem nisso, antes de atirarem suas pedras!
FONTE: adriana@jornalonorte.com.br e Cultura@jornalonorte.com.br
Texto enviado ao "Jornal do Capoeira" por Bené (PB). Bené é pesquisador de Cultura Popular da Paraíba, e integrante do Grupo Zumbi de Cultura Popular.
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