quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Contra-mestre Chico, da Paraíba, avalia Festival de 2004

Nesta entrevista, realizada pelo pesquisador de cultura popular Benedito dos Santos, o Bené, contra-mestre Chico avalia os resultados do Festival realizado pelo Mestre Naldinho, em dezembro de 2004, João Pessoa, Paraíba.

Há uma comunidade distante uns 40 quilômetros da capital paraibana chamada Gurugi. Essa comunidade é detentora de uma história de resistência muito grande, assim como é o exemplo de resistência da própria Capoeira. A comunidade de Gurugi não desistiu de lutar por suas terras e hoje, apesar de ainda não terem seus direitos totalmente respeitados, já vivem dias melhores, garantindo o desenvolvimento de seus legados culturais, onde seu ponto forte é o Coco de Roda.
            Em meados de 2003, iniciou se em Gurugi, um trabalho de Capoeira com a comunidade, com o objetivo de garantir à mesma um processo de resgate do passado, bem como a junção de outras culturas daquele povoado. Esse trabalho é desenvolvido por FLAVIANO RIBEIRO DA SILVA, (Contra-Mestre Chico), que falou com exclusividade ao Jornal do Capoeira. Aproveitando a oportunidade, Chico falou também sobre o Festival realizado em dezembro de 2004.
            O contra-mestre Chico apresentou um panorama sobre a Capoeira Angola na Paraíba, suas dificuldades, bem como dos  desafios a serem vencidos.
JCap " Contra-mestre Chico, como você define seu trabalho em Gurugi, desde seu início aos dias atuais?
CM.Chico " Em dezembro/2004 completamos três anos de trabalho. O desenvolvido do mesmo sempre foi difícil, pois, para se ter um exemplo, no começo contávamos com 150 alunos da comunidade, depois teve uma queda no número de participantes e agora o trabalho volta a crescer. Nesse crescimento pretendemos tornar possível a produção cultural da comunidade que é muito forte e uma dessas forças é o Coco de Roda.
JCap " A realização do Festival 2004 correspondeu com suas expectativas?
CM.Chico " Nós tivemos um pouco de dificuldade, tendo em vista o desligamento do Grupo da Capoeira Angola Palmares, e agora estamos implantando uma nova caminhada como Capoeira Angola Comunidade, que tem seus próprios professores, contra-mestres, tendo-se o Mestre Naldinho a frente do trabalho. Mas isso não tirou o brilho do festival, pois tivemos esse ano a formatura de um professor, um contra-mestre, além de oito instrutores, que agora irão fazer parte dessa nova estrutura.
JCap " Do seu ponto de vista, como a sociedade, de modo geral, acompanhou esse festival e quais os pontos positivos que você apontaria como conquista desse espaço alcançado  pelo grupo até o momento?
CM.Chico " Foi um trabalho de equipe, realizado pelo grupo, e que contou com a participação de vários segmentos da sociedade paraibana, a exemplo da Universidade, de Escolas de Ensino Fundamental, Médio e Creches. A sociedade tem cooperado muito, e nós retribuímos com nosso trabalho.
JCap " Quais as expectativas agora com a desfiliação da Associação de Capoeira Angola Palmares?
CM.Chico " O desafio maior é unir todos em volta do Mestre Naldinho e fazer com que somemos os resultados desses desafios que são grandes. Para vencer tais desafios, contamos com nossa nova estrutura, que está bem segura, e que com certeza garantirá nosso sucesso nesse processo.
JCap " Você  acredita que essa desvinculação com a Capoeira Angola Palmares na Paraíba, ela tem uma conotação Política, Cultural ou Educacional?
CM-Chico " Educacional. O trabalho que o Mestre Naldinho vinha fazendo junto com a Capoeira Angola Palmares e apoiado pelo Mestre Nô, sempre foi de bastante êxito. Todavia, por algumas questões de desenvolvimento dos trabalhos, esse vínculo estava sendo difícil de ser mantido.  Então Mestre Naldinho decidiu caminhar de uma forma diferente. Esse sucesso se deve pelo fato do grupo contar com alunos dedicados, a exemplo de Bené, pesquisador da Cultura Popular, e dos professores, instrutores e contra-mestres do grupo. Esses fatores dão suporte ao mestre Naldinho em continuar o trabalho.
JCap " Uma sintese de como vem sendo desenvolvido a Capoeira Angola na Paraíba e a sociedade, de modo geral, tem aceitado essa prática!
CM-Chico " Mestre Naldinho desenvolve esse trabalho há 14 anos, e a atuação em conjunto com a sociedade tem nos fortalecido muito. Outro ponto forte é estarmos com bom relacionamento com todos aqueles que praticam a Capoeira Angola aqui na Paraíba. Trabalhando dessa forma todos crescemos.
JCap " Quais suas considerações finais!
CM-Chico " A mensagem que eu quero dizer, é que é de muito bom grado recebermos apoio como esse que JCap está dando a Paraíba, através das matérias que Bené irá produzir. Estamos também felizes como o resultado de nosso Festival. Existem outros que também estão programados. O resultado é um só: o crescimento da Capoeira Angola na Paraíba. Parabéns a todos e muita paz para os capoeiristas de boas intenções, sejam elas, políticas, sociais, culturais ou educacionais.
Nota da Redação: Na foto aparecem os Mestres Nô e Naldinho, no primeiro quadro, e o Contra-mestre Chico no segundo.
Entrevista realizada por Bené (PB) em Janeiro de 2005. Bené é pesquisador de Cultura Popular da Paraíba, e integrante do Grupo Zumbi de Cultura Popular.

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